quinta-feira, 29 de abril de 2010

O CHOCOLATE NÃO É ASSIM TÃO DOCE

O médico tinha-me dito que o chocolate preto, aquele que contém mais cacau, era bom para a circulação do sangue, porque é um anti-oxidante.Seguindo as instruções médicas,e depois de uma intervenção que fiz ao coração, comecei a consumir um cubo de uma tablete de chocolate preto por dia.
Tudo corria na santa paz dos anjos, quando, numa noite destas, tudo se alterou. Uma reportagem na TV descobriu a verdade do chocolate. Então, vim a saber que a origem do cacau é a Costa do Marfim. Que os produtores deste fruto recorrem a trabalho escravo infantil,pagando cerca de 250 euros a raptadores de crianças do Mali e do Burquina Faso para que estes levem estas crianças das suas aldeia para as fazendas de cacau na Costa do Marfim.
O repórter confronta a Nestlé com estas acusações - já que esta multinacional compra directamente o cacau a estas fazendas onde se escravizam as crianças. A Nestlé nega a existência de trabalho escravo infantil. O repórter faz a investigação e vai à multinacional com o filme onde se prova esta situação degradante. A empresa, não conseguindo desmentir, recusa-se a falar com o repórter. Este exibe o documentário num ecrã gigante defronte à sede da multinacional da vergonha.
Agora, quando vou consumir o chocolate preto, a imagem que me assalta é daquelas crianças que nunca tiveram infância para que os poderosos continuem a dominar o mundo.
E deixei de consumir chocolate? Não, mudei de marca, mas tendo consciência que as outras empresas recorrem aos mesmos métodos esclavagistas para obterem chorudos lucros.
Moral da história: neste mundo, dominado pelo mercado do lucro para uma minoria, não há moral nenhuma.

Manuel Monteiro

2 comentários:

Falcão Peregrino disse...

Ou, como o Álvaro de Campos Dizia:
"(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)"

in "Tabacaria"

heitor disse...

Pois; por norma, a consciência
condiciona-nos...
ainda que haja quem diga que
"O saber não ocupa lugar..."