sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A GRATIDÃO DAS PROSTITUTAS

Quando Victor Hugo morreu, em 1885, a França em peso prestou-lhe as maiores homenagens.
Numa das suas principais obras, OS MISERÁVEIS,o grande escritor descrevia a vida desgraçada das prostitutas, numa visão realista mas cheia de compaixão por tão sofridas vidas.
Pois no dia do seu funeral, todas as prostitutas de Paris vestiram de luto, em sinal de dor e gratidão pelo homem que tão bem retratou as suas vidas.

Manuel Monteiro

O QUE EU ANDEI PARA AQUI CHEGAR

"Podemos ser muito conservadores, mas quando participamos numa revolução somos como um rio quando extravasa as margens: não há barreiras ao desejo da liberdade das águas.
Assim somos nós. Não há freio que consiga domar a nossa fúria de transgredir a moral dominante. Transgredi-la é já estar a construir algo de novo, embora não saibamos bem o quê.
Pôr em causa a propriedade privada é, na revolução, o início de tudo. A propriedade privada dos meios de produção, da água, das estradas, do vento, do espaço, do corpo. Sobretudo do corpo. Porque, o corpo aprisionado a outro corpo pelas convenções, é o lugar exacto da moral burguesa.
A libertação dos corpos destes entraves é, na revolução, o indicador de que algo profundo vai acontecer.
O fim da revolução é a morte da expressão dos livres sentimentos. É a prisão e a tortura da aspiração à plenitude do ser.
Hoje teorizo isto sem grande emoção, mas com tristeza e saudade. Porque foi aquela mulher burguesa que me ensinou, sobre os infinitos gritos do seu prazer, que não há limites para a transgressão. E que há que correr todos os riscos, sem calculismos ou temor, porque o momento da transgressão é o local exacto onde se constrói aquilo que será eterno, ainda que só por breves momentos. É isso: a eternidade em breves momentos. E a mais não podemos aspirar.
Não há revolução nenhuma que consiga prolongar o que só tem existência no fugaz momento, porque isso seria desenterrar o que a história já queimou: o correr dos dias dentro dos limites do possível. O que procuramos é o mais puro realismo; o impossível momento que nos liberte de uma vida sem história E todas as revoluções acabam quando desperdiçam estes momentos e decretam a felicidade através da monotonia.
Muitos irão explicar-vos o falhanço das revoluções pelas conjunturas e pela correlação de forças. É gente rotineira, profissionais de explicar fracassos pelo que é a espuma da superfície dos acontecimentos. Esses são os imbecis a quem a poesia não abre as portas. Só tereis uma explicação lógica e plausível para os falhanços da humanidade pelos olhos dos inocentes
A revolução perde-se quando perde a sucessão dos breves momentos, nas alturas em que a propriedade privada é contestada pelo corpo em delírio.
Se sei o que sei sobre este assunto não é porque a minha filosofia seja profunda ou aprimorada, mas porque me foi revelado no corpo ardente daquela mulher burguesa"

Excertos do meu romance: O QUE EU ANDEI PARA AQUI CHEGAR

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O ESPIRITO COLECTIVO DAS FORMIGAS

Recentemente, os cientistas descobriram que as formigas, quando se sentem doentes, afastam-se do grupo para morrer sozinhas.
Esses mesmos investigadores chegaram a uma conclusão, depois de experiências laboratorias,que estas formigas doentes se afastam para não contaminarem o grupo.
É sabido que o vírus da constipação tem uma estratégia de contaminação do maior número de pessoas: faz com que as pessoas que já o albergam tossam e espirrem para que ele seja transportado para outros indíviduos.
Sobre as formigas, os parasitas atacam-lhe os movimentos para as impedir de se afastarem do grupo. Só que o espírito colectivo da formiga é mais forte: o instinto leva-as a afastarem-se da família antes que o vírus as consiga paralisar. E assim morrem sozinhas para salvarem a comunidade.
Nos homens acontece o contrário. É a sociedade que afasta os fracos e os doentes, já que o ser humano tem outras defesas para lutar contra os parasitas, sem que seja necessário o sacrifício dos mais débeis.
A propósito disto. Quando eu era um menino camponês, em Trás-os-Montes, a minha avó contava-me uma história:
"Naquele tempo - as histórias da avó começam sempre com " naquele tempo"-, naquele tempo, os velhos em fim de vida eram levados para o monte, com uma manta, para aí acabarem os seus dias sozinhos. Um dia, um filho levou o pai às costas para o seu destino fatal. Quando chegou ao monte o filho desceu o pai das costas e entregou-lhe a manta. O velho virou-se para o filho e disse-lhe:
-Meu filho, leva a manta contigo.
-Porquê, meu pai?
-É que, quando chegares à minha idade e o teu filho aqui te trouxer, vais precisar dela. Porque deves lembrar-te:
Filho és
Pai serás
Conforme fizeres
Assim acharás
O filho colocou de novo o velho pai às costas e levou-o para que vivesse com a família os últimos anos da sua vida.
A partir dali, concluía a avó, nunca mais nenhum filho abandonou o pai e o deixou morrer sozinho.
A avó era uma mulher sábia. Mas era também muito ingénua.
Manuel Monteiro

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

JORNALISMO DE VÓMITOS

A SIC Notícias apresenta o seu jornal da manhã. Um jornalista comenta a ofensiva da NATO sobre a resistência afegã. "Apesar dos 12 civis mortos, a ofensiva tem corrido bem...)
Apesar dos 12 civis mortos? A ofensiva tem corrido bem? Mas este jornalismo comprometido com as forças opressoras perdeu, de vez, a vergonha e a decência!

Manuel Monteiro

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

LÓGICA IMPLACÁVEL

Em Borgo de San Sepolcro, Itália, encontra-se uma pintura magnifica da autoria de Piero della Francesca, a "RESSURREIÇÃO", que retrata, como o nome indica, a ressurreição de Cristo.
O escritor Aldous Huxley deslocou-se ao local e apaixonou-se pela obra, considerando-a a maior pintura do mundo.
A RTP2 apresentou um documentário sobre o quadro e o seu enquadramento histórico. Na mesma reportagem aparece uma professora e uma turma de alunos,na escola, a falarem sobre a obra. A professora repete a afirmação do escritor Huxley, de que o quadro "Ressurreição" era a obra mais magnifica do mundo. Um aluno virou-se para a professora e perguntou:
-Mas esse senhor já viu todas as pinturas do mundo?

Manuel Monteiro