quinta-feira, 13 de agosto de 2009

SOU UM POETA UNIVERSAL- ||

Não acreditaram no que escrevi sobre ser um poeta universal, porque ser conhecido no bairro não define universalidade?
Então leiam extractos desta carta que o Luís Neto me escreve de Sanfins do Douro:
"Caro amigo Manuel Monteiro
Aqui vão 10,00 euros para o pagamento do seu belo livro.
Começa logo pela capa que está um primor (só de ver o olhar do menino,ficamos encantados...)
...aqui lhe deixo algumas impressões à primeira vista e sintéticas.
Os títulos: "A voz do rio" - lindo e nostálgico para mim
"Dúvidas"- Inquietação, bom poema.
O "Manifesto a favor do touro" - belo, bem delineado.Peço-lhe para publicar o extracto "Peço aos poetas que não louvem os toureiros/Nem outros ofícios de tortura:/Cravar no sangue um ferro/É um acto de cultura?".
E o Luís vai por aí fora comentando os meus poemas de uma forma que me comove.
Juntamente com a carta, envia-me também dois livros de poemas seus que lerei com todo o interesse e neste blog darei conta desses poemas.

Manuel Monteiro

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

SOU UM POETA UNIVERSAL

Acreditem que é verdade. Sinto-me um poeta universal. E isto por uma razão simples: no meu bairro, as pessoas têm comprado o meu livro. A Glória, a minha mulher, vendeu-o ao merceeiro, à senhora do peixe, ao homem do talho, a uma amiga que trabalha nas limpezas e a outras pessoas cujas profissões não sei.
Querem destino mais glorioso para a poesia do que ser entregue a tão insigne gente?
A D. Ana do Quiosque dos jornais, para além de ter comprado um livro,hoje veio ter comigo e disse:
-Tome lá dez euros;vendi dois livros seus...
Ó glória das glórias. Esta honra nem o Camões teve(Coitado:morreu de fome...)
E não tenho razão para me considerar um poeta universal? Quem é amado e conhecido no seu bairro entra no panteão que mais me interessa: o universo do coração das pessoas.

Manuel Monteiro

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

AUTO ENTREVISTA

Saiu o meu livro de poesia, "IMPERFEITA SABEDORIA".
Como agora já não tenho amigos na comunicação social- morreram os meus grandes amigos Rodrigues da Silva e João Mesquita-, decidi promover-me a mim próprio, com uma auto-entrevista.
P-Porquê publicar poesia, numa altura de tanta miséria?
R-Ó, santa ignorância!,a poesia é para se comer...
P-A poesia vende?
R-Que ideia.
P-Então como publicas?
R-Gosto de arruinar a família (e chatear os amigos: uma esmolinha a favor da cultura...)
P-O teu filho Eduardo disse que este livro é muito pesado e sombrio
R-O Eduardo, devido aos pontapés que tem levado da vida, começa agora a ser um sábio...
P-Mas porquê esse lado mais sombrio na tua poesia?
R-É que antigamente, quando estava deprimido,bebia uns copos e a depressão passava. Agora, devido à hepatite b, não posso beber e tenho que aguentar a neura...
P-O que se passa com a tua contagiante alegria e a tua fé na revolução?
R-Ó, pá, anda tudo muito por baixo
P-E não há nada que te anime?
R-O Gabriel, sempre o Gabriel, esse meu neto por cujos olhos verei o mundo quando já aqui não estiver.
P-Para terminar: o que mais te irrita, actualmente?
R-Que falem mal da classe operária e maltratem os livros
P-A classe operária? Ainda acreditas no seu poder transformador? Não está ela definitivamente perdida para a sua grandiosa missão histórica?
R-O sol, mesmo nos dias que não brilha, não deixa de ser um astro radioso...
P-E os livros: porquê essa preocupação?
R-Lembra-te: agora sou alfarrabista de feira...
P-Obrigado.
R-De nada. Manda sempre.

Manuel Monteiro (o que perguntou e respondeu)