quinta-feira, 31 de julho de 2008

POBRE GATO QUE TAL DONO TEM

O gato fugiu para o telhado.O vizinho, condoído, subiu ao telhado e salvou o gato.O dono do gato dá dois tiros ao salvador do bicho.Isto porque vizinho-salvador era homossexual.A besta do dono do animal imaginou que o bichano passaria a ser bicha, depois do contacto com o homem feminino.Passou-se (não na América) no Porto. A besta apanhou sete anos de prisa(aposto que à terceira ou quarta noite vai deixar de ser homofóbico e vai descobrir como é bom o sexo com os matulões da cadeia)



OS GATOS

escrevo poemas sobre gatos
e não tenho gatos

escrevo sobre jovens mulheres
sobre revoluções e traições
mas sou um homenzinho triste
que risca os dias
como merceeiro apaga dívidas no livro de calotes

quando foi desvendado o meu secreto ofício de poeta
murmurou um vizinho: pois não havia cá no bairro
poucos loucos...

mas não desisto dos gatos (estou a pensar adoptar um)
e a poesia continuará a ser o meu ofício:

assim é mais fácil suportar o aumento do preço do pão

Manuel Monteiro

quarta-feira, 30 de julho de 2008

O DONO DO MERCADO

Aqui há uns tempos-ainda o meu amado neto Gabriel morava comigo- estavam uns pategos que se diziam economistas(alguns deles que foram perigosos esquerdistas) a falar na tv no mercado,nas leis do mercado, que o mercado tudo regula.
O Gabriel perguntou-me:
-Avô, o que é o mercado?
O Mercado,Gabriel, é o Belmiro de Azevedo, aquele dono do Continente,com uma caneta nas manápulas a fazer contas aos lucros...



ACUMULAÇÃO CAPITALISTA

acumulas riqueza
o teu crescer é o crescer da pobreza

mesmo assim és feliz

sabe-te bem a santola e a perdiz

o teu filho segue o mesmo rumo:
nada faz e tudo herda

cuidado
com tanta abundância
ainda vais morrer na merda

Manuel Monteiro

terça-feira, 29 de julho de 2008

INVEJOSO

Telefonou-me um amigo a propósito da peça CAMÕES DE PRIMEIRA-CAMÕES DE SEGUNDA.
Acha que fui radical de mais. Se estivesses no lugar deles que farias?, perguntou-me,
implicando nessa pergunta uma crítica.
O problema - ou a solução - é que eu não estou no lugar deles. Estou noutro lugar. Não sei se melhor, sei que é outro lugar.
Mas para que não digam que olho para os intelectuais com aversão, aqui deixo um poema dedicado ao meu camarada-irmão,José Mário Branco.



A MAIS PURA RADICALIDADE
(ao José Mário Branco, pela coerência)

o pobre nada tem de seu
a não ser a pobreza
(bem desejaríamos que tivesse um leve
golpe de asa e alguma nobreza)

vós ó almas nobres estais intimados:
poetas pintores simples oleiros escritores

que ninguém se aproprie da dor
(mesmo para fazer obra de arte)
se não devolver a quem sofre
dos lucros a maior parte

malditos os que aos pobres vão buscar inspiração e tema
teorizam a miséria em proveito próprio
falam nos oprimidos com muita pena

e recebem os trinta dinheiros do cordeiro imolado
prémio da sacanagem de fazerem da pobreza arte
com o pobre cada vez mais desgraçado

só eu escrevo à vontade
a poesia apenas rouba um pouco de saudade
uma réstia de sol e alguma tristeza

não se conhece poeta rico
(e mesmo aqui não tenho a certeza)


Manuel Monteiro

CAMÕES DE PRIMEIRA - CAMÕES DE SEGUNDA

O prémio Camões foi este ano entregue a João Ubaldo Ribeiro.De acordo.
A marosca veio depois: este ano o júri decidiu debruçar-se só sobre autores do Brasil.
Mas porquê? Para o ano (ou no ano passado já foi assim?) debruça-se só sobre autores portugueses. E sobre os autores africanos? Migalhas? Será o espírito de potências a prevalecer? Mas Portugal é potência de que? Só porque dá uns cobres a mais acha-se no direito de dividir com o Brasil (outra potência...mas da miséria)o bolo, deixando as migalhas para os autores africanos? E estes comem esta afronta em silêncio?
Estamos numa fase em que os intelectuais estão a comer à grande da gamela do poder, aceitam todas as panelinhas. Estão, quase todos, muito horrorizados com o"terrorismo"dos pobres,das FARC, da ETA, da resistência iraquiana e palestiniana.
Que saudades de Sartre, de Neruda, de Garcia Lorca, de Zeca Afonso.Que saudade!


OLÁ ALÍPIO

empurrei a porta com toda a violência
o velho disse-me:tenha paciência
porta abre-se como quem deseja mulher
e faz festa a criança

toque-lhe num afago
puxe-a para si com carinho
empurre depois suavemente-

ela vai abrir-se de mansinho

pode suceder à porta
o que sucede muitas vezes à mulher
e à criança:

de tão violentada não cede à força ao jeito a nada

sábado, 26 de julho de 2008

O DIREITO É IGUAL

Diz-me um amigo, que é cristão:
-Ainda és comunista,depois dos crimes cometidos pelos stalinistas?
Eu, um bocado venenoso:
-E tu, ainda és católico, depois dos crimes da igreja, sobretudo com a Inquisição?
-Sim, sou católico. Pedimos perdão às vítimas e fortalecemos a fé em Cristo e na igreja de Roma.
-Ora aí está.Também eu continuo comunista e de igual forma fiz autocrítica pelos erros do passado. O direito é igual...



DÚVIDAS DE PEREGRINO

a tarde caía e eu lavava os
meus pés magoados

entre cânticos e lenços brancos
uma voz ecoa sobre a multidão em prece:

não esperes a paz nesta vida
só na morte a encontras plena

ao olhar a Senhora um pensamento
assassino me assalta:
se não me valeste no corpo
como me podes salvar a alma?

como expiação das minhas dúvidas
coloquei os joelhos na pedra e rasguei em sangue
para que todos vissem a minha renovada fé


Manuel Monteiro

sexta-feira, 25 de julho de 2008

COMO SE ELEVA UM POVO

Hoje, ao receber o prémio Camões, António Lobo Antunes fez um comovente e didáctico discurso sobre a língua portuguesa.
Os telejornais da noite abrem com parangonas sobre o "Apito Dourado",o "Caso Maddie",
os prejuizos do BPI.
Com lavagens de cérebro destas como querem que o povo se liberte da alienação?


FESTEJANDO O POVO

puro veneno é a tua língua
que tudo deturpa

puro prazer na tua queda
e na dos que te seguem

pura alegria pelas vozes comuns
que nos amam tanto

Manuel Monteiro

quinta-feira, 17 de julho de 2008

ANDAMOS TODOS UM BOCADO SORUMBÁTICOS

É. A situação política e social é deprimente. Mas a nossa costela judaico-cristã também ajuda muito.
O meu neto Gabriel quando partiu para Londres, disse-me: avô, não chores; continua com as tuas maluqueiras...
Para fazer a vontade ao Gabriel, e para vos animar um bocadinho fiz o poema FÉRIAS DE POBRE que aqui publico.

Manuel Monteiro

FÉRIAS DE POBRE

o pé acetinado a anca fina
a boca perdida por beijos-
mulher assim nem miss de surreais seios

claro era o mar
ondas só no teu corpo de sereia
mergulhava as mãos na tépida água
e com elas empurrava a jangada
que nos levava à ilha paraíso

mas havia algo estranho:
em vez do som do hula hula
era um fado chunga que me embalava

quando acordei
uma gorda mulher passava a ferro
o cão ladrava desalmado

e eu tinha a mão mergulhada no penico
estacionado junto à cama

Manuel Monteiro

segunda-feira, 7 de julho de 2008

PROCLAMAÇÃO AOS GUERRILHEIROS

ah como era doce ser ladrão dos teus tesouros:
penetrar na gruta negra e sedosa explorar as duas
ondeadas montanhas com os picos rosados entumecidos

ah como eu conhecia (sem mapas) todos os secretos
recantos onde treinei meu corpo de guerrilheiro imberbe

agora fecharam-me neste curro
exigem-me nomes datas locais

não é o doce sabor dos teus lábios
que sinto nos meus: é o sangue que o carrasco
me arrancou na tortura

exigem-me uma confissão completa

possuído pelo teu amor
não cederei aos tiranos

MM

ALGUÉM NOS ANDOU A ENGANAR

Há um país na América Latina dirigido por criminosos, apoiados pelos ianques e pelos sionistas. Este país é a Colombía. Uribe, o presidente fantoche, deve a sua ascensão política ao narcotráfego e porque é um dócil lacaio do imperialismo norte-americano.
Pode-se não concordar com tudo o que as FARC fazem, mas elas correspondem à necessidade que muitos sindicalistas, militantes dos movimentos sociais, camponeses pobres - massacrados pela oligarquia e pelos paramilitares fascistas - sentiram de responderam com a violência revolucionária e popular à violência da direita capitalista e fascita.
A D. Ingrid Betencurt fez correr pelo mundo que estava quase a morrer às mãos dos "facínoras" das FARC. Se não fosse libertada, as doenças de que padecia podiam causar-lhe a morte, assim rezava a "campanha humanitária".
Mas eis que nos aparece D. Ingrid toda fresca e lampeira, sem a mínima doença, os médicos franceses o dizem. Não sei porquê mas esta história da libertação da D. Ingrid está muito mal contada. Uma coisa é certa: a novela da suas graves doenças não passou de uma enorme patranha. E quem mente uma vez, mente mil...

MM

terça-feira, 1 de julho de 2008

O POEMA E A BARRAGEM

O poema "A VOZ DO RIO" foi feito sem intenção de me dirigir a uma barragem específica.
Surge agora a polémica com a barragem do Sabor.
Vão aprisionar o rio,a vida selvagem vai desaparecer,a natureza vai ser violentada.
A maioria da população da região está a favor, para não falar nos autarcas(mas esses estarão sempre a favor de qualquer merda que lhes dê votos).
O interior está cada vez mais desertificado e pobre. As populações aceitam qualquer projecto que lhes ofereça um mínimo de esperança de um futuro melhor. Se os ecologistas pensam que podem contestar projectos destes sem porem em causa o sistema capitalista, estão muito enganados. A ecologia pela ecologia não existe. Deve-se defender um desenvolvimento harmonioso. Mas isso em sistema capitalista é impossível.
Meus amigos ecologistas:lutar pela natureza é lutar por um novo sistema político onde prevaleçam os interesses da comunidade,e não dos interesses privados.
MM