quarta-feira, 31 de agosto de 2011

CORTES NA DESPESA? LIQUIDEM-SE OS POBRES!

A tua nota foi criada.
Eles anunciam em grandes parangonas que vão fazer cortes na despeza como nunca se verificou desde 1950.
"Vai ser uma redução na despesa histórica", proclama o ministro da economia com o ar feliz de um tolinho que brinca com uma granada.
Afinal, o corte na despesa não é nas mordomias dos ricos nem nos privilégios dos altos quadros do estado.
O corte na despesa será na saúde para os pobres, no ensino público, no aumento dos transportes, na subida da electricidade e do gaz, no roubo do 13º mês, no próximo aumento do IVA, na introdução das portagens nas estradas do interior mais pobre.
Todas as medidas de austeridade recairão sobre os que já pouco tinham, enquanto as grandes fortunas continuarão a aumentar...
Então, meu povo, cá nos encontraremos: ou na rebelião mais radical contra estes vampiros da nossa felicidade
Ou, baixando os braços, numa sopa dos pobres de uma instituição de caridade de uma cidade qualquer...

Manuel Monteiro

domingo, 28 de agosto de 2011

ELES CUMPREM O QUE PROMETEM

Diziam os capitalistas quando, em pleno PREC, nós gritávamos com toda a convicção que deviam ser os ricos que deviam pagar a crise:
-Pois é, vocês, os revolucionários, querem acabar com os ricos que geram riqueza; nós, os capitalistas, queremos acabar com os pobres...
E não é que estão a cumprir a promessa?
Estão a acabar com os pobres...MATANDO-OS À FOME!

Manuel Monteiro

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

ANTES ÓRFÃO...

Num grave acidente no IC2 uma família ficou desfeita com a morte de 4 pessoas dessa família.
A esse acidente sobreviveu uma menina de 10 anos, filha e neta dos sinistrados.
No funeral, o padre realçou o facto das pessoas sofrerem o acidente quando regressavam de uma romagem a Fátima.
"Que maravilha! Tiveram a bênção de Nossa Senhora, a nossa mãe..."
Que maravilha? Maravilha esta morte horrorosa? Maravilha o sofrimento desta menina órfã?
Nossa Senhora, nossa mãe?
Bem, eu prefiro ser órfão a ter uma tal indiferente mãe...

Manuel Monteiro

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A MINHA MÃO SOBRE O TEU ROSTO



Em qualquer parte do mundo
Em que contemples a solidão mais intensa

Em todas as fronteiras da dor
Onde tua pele se desfaz no arame farpado
E no olhar raivoso dos carcereiros do sonho

No teu rosto desfigurado
Menino africano de todos os continentes

Nos teus seios secos e nos olhos sem lágrimas
Mãe preta de todas as raças

Nos teus filhos que foste enterrando
Nos caminhos dos desertos da agonia

Nos que cerram os punhos
Ao sangue da rua
Na Europa africana dos mercenários implacáveis

No coração timorato dos que dominam a palavra
E se não comprometem

Naqueles que desenham mapas
E os repartem pelos chacais

Nos que esperam por todos os prémios
E se calam ao desespero
Das bocas famintas de pão e de luz

Aos que nos deixaram a coragem
Do seu passado de mil lutas
E cuja memória vagueia triste nas ruas de Chicago
Ou nos campos silenciados do Alentejo

Aos que vestiam os seus fatos proletários aos domingos
Com as mãos calejadas pelo esforço inglório
Mas que tinham a doçura de colocar no rosto dos filhos
A carícia que mais tarde seria fúria
Quando enfrentavam a polícia nas praças em tumulto

À aldeia deserta e aos velhos que partem sem memória
Porque a memória deste tempo os esqueceu
E com eles parte a história da nossa ternura da infância
Como se abate um castanheiro que chora sobre o vento
A maldição do fogo e o desprezo dos homens

Aos que habitam os territórios cercados
E mesmo assim cantam a canção
Um hino ao sol
Chamando a multidão

Aos que se dão inteiros
Sangue coração lágrimas e revolta
Íntegros e radicais no sonho
E que nunca terão estátuas nas praças
Mas serão cantados pelos jograis antigos

Às mulheres que se dão por amor
Às que se entregam em bordeis e mesmo aí repartem a felicidade
Às que se deixam amortalhar em vida servindo seus amos
Que pode ser o patrão o marido os filhos
Limpando o pó abrindo as pernas refogando o arroz

À minha vida à vossa vida
À nossa morte (porque ela é nova vida)
Às nossas batalhas de rua
À terra prometida
Que como Moisés já não verei
Mas que sei onde fica
Ali onde deixei o meu sangue
E onde te beijei a primeira vez

Sobre esta vida e esta morte eu alongo as minhas mãos
Confortarei os moribundos
Darei coragem aos combatentes

Alento aos que recuam na caminhada
E escreverei no papiro o tesouro guardado nas montanhas
Que não se destina a fabricar bezerros para adoração
Mas a comprar pão vinho e grinaldas
E a colocar sobre os peitos das raparigas
O sinal do amor no tempo de todas as promessas

As minhas mãos
As minhas mão que tremem e se inventam
As minhas mãos sobre todos os rostos
Sobre a terra inteira
Sobre a minha vida
Sobre a minha morte

As minhas mãos sobre a história do mundo
Essa história que se anuncia e que não verei

mas que encontrará aqui o meu sorriso…

Manuel Monteiro





quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O QUE NÃO MATA, FORTALECE-NOS

Há momentos dolorosos nas nossas vidas, pequenas ou grandes tragédias que alteram o curso normal da nossa existência.
Há acontecimentos que nos deixam amargurados e perdidos num turbilhão de perguntas e revoltas.
De repente uma faca crava-se no mais fundo da nossa sensibilidade, empunhada por quem nós nutríamos afecto e até amor.
Logo a seguir repartem por nós o que esta sociedade tem para nos dar: desemprego,
dívidas,um futuro incerto, já não direi para nós, mas para os filhos e os netos.
Tudo à nossa volta parece ruir.
O que nos pode salvar? Quem nos pode libertar deste atoleiro?
Talvez quem a nosso lado sofre mais do que nós.Ou o nosso ideal puro da juventude. A ternura dos netos. A altivez brincalhona do gato Osborne. O projecto de novos romances.
Mas hoje estou mesmo em baixo.
Amanhã estarei melhor.
Porque o que não nos mata, fortalece-nos

Manuel Monteiro

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O ASSALTO NEOLIBERAL

É certo que das conquistas do 25 de Abril já pouco restava.
Mas havia um estado que poderíamos chamar de social, onde a população mais pobre, e os trabalhadores em geral, tinham um abrigo mínimo para as suas dificuldades.
Agora a classe dominante entrou a matar e do 25 de Abril, no plano social, não ficará pedra sobre pedra.
São agora os aumentos indiscriminados que penalizam os mais pobres e os assalariados de baixos salários. É a seguir o roubo do 13º mês. Segue-se a alteração das leis laborais para darem toda a força aos patrões, fazendo das relações laborais uma selva onde o leão é o patrão.
O culminar desta ofensiva será o ataque às liberdades fundamentais dos cidadãos. Começará pela revisão da constituição e vai ter a sua expressão prática na repressão do descontentamento popular, expresso em manifestações de rua e outros actos.
Lentamente estamos a caminhar para uma sociedade neo-fascista, a exemplo do que se passa na Europa. Só que aqui não é a extrema-direita que conduz esse processo. São os "Homens de Chicago", acoitados no PSD/CDS e alguns no PS.
É bom que a esquerda, a do sistema e a outra, se apercebam do que está em jogo e se deixem de jogos florais.
Isto não vai com requerimentos nem com indignações parlamentares. O calculismo eleiçoeiro pode deixar a direita neo-fascista com as mãos livres para todas as tropelias. E paralisar o movimento popular à canga do fatalismo salazarista.
Em Setembro há que vir para as ruas gritar, ocupar as praças, as avenidas, os bairros.
Discutir para agir, acordar as pessoas desta inércia e para expressarem a revolta surda num imenso clamor que faça recuar a direita revanchista.
Ou isso, ou então é o caminhar lento para um novo fascismo
Que caminho vamos escolher?

Manuel Monteiro

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

ARDERAM OS AMADOS CASTANHEIROS DA SERRA DO ALVÃO

ARDERAM OS CASTANHEIROS DA SERRA DO ALVÃO

O fogo beijou a serra
Não de paixão mas de fúria
E os amados castanheiros
Que nos abrigavam à séculos
Foram a imagem do que seremos:
Cinza e solidão

E tu disseste-me avô:
A montanha é feia
Quando se desnuda
Diferente é a mulher –
Na sua nudez
Toda a beleza é possível
Até eu
Cuja mulher se vai desgastando
Sinto o corpo livre e jovem
Nas noites em que absorvo
A sua nudez

As tuas palavras
Avô
Foram condenadas
Pelas velhas mulheres
Mortas pelo tempo
Mas hoje avô
Que quase tenho a tua idade
Sinto como eras sábio e terno
E de como me preparas-te em alegria
Para a fúria do fogo
E para as cinzas que seremos

Manuel Monteiro