sexta-feira, 25 de março de 2011

AO FIM DA TARDE, A TRISTEZA

parte ligeiro e leve como um cisne deslizante -
poucos te chorarão

se sentires o perfume das rosas: aproveita
é porque é primavera e foste sábio em partir

todo o tempo é teu e a morte a promessa mais radiosa


Manuel Monteiro

quinta-feira, 24 de março de 2011

COMO SE NÃO TIVESSES PARTIDO

despe-se e caminha para ofertar o corpo
à água
já o ofertou aos homens
e pagou um preço
imerecido

a mim que não era homem
mas lobo
pintou-me de azul e ofertou-me a luz -
dos uivos fiz carícias que desenhei
nos seios ávidos

riu-se da moral
deu-se a velhos e aos novos
secaram-lhe as lágrimas
mas não a nascente da mágoa

quando saltou o abismo era doce
uma rosa a acompanhou de longe
suspirei um sorriso
e li a carta que me deixou -

o vento tocou-me o rosto
e o abismo é profundo
amor te digo que da morte
a vida surge
nós é que não estamos preparados

Manuel Monteiro

quarta-feira, 16 de março de 2011

JOVEM À RASCA - BEM-VINDO À PROLETARIZAÇÃO

Prometeram-te:
Pertenceres a uma forte classe média
Um canudo de doutor privelegiado
Um alto salário e bastas regalias sociais
Carro topo de gama e casa com jardim e piscina
Férias em paraisos tropicais
Emprego a tempo certo em multinacionais com regras civilizadas no ambiente de trabalho

Em troca exigiam-te:
Olhar para o pessoal da ferrugem (o velho e atrasado proletariado) como algo absoleto e digno de compaixão
Afirmares que as velhas teorias do movimento operário era uma peça de museu
Que isso de vir para a rua contestar o sistema e as suas leis injustas era para falhados e marginais
Reconhecer que o capitalismo era o reino do bem-estar para todos com base na criação de riqueza e numa justa distribuição entre capitalistas e trabalhadores ( o velho sonho social-democrata)
Que a nova revolução tecnológica vinha libertar os produtores de longos horários e encurtar o tempo de reforma
Que a diminuição de horário e o encurtar da reforma vinha criar emprego para toda a gente

O que te deram:
Canudos à barda e doutores a torto e a direito
Desemprego
Trabalho precário
Recibos verdes sem o mínimo de direito
Estágios à borla para o estado e os privados se encherem à tua custa
Longos horários de trabalho e alongamento da reforma
Fim do estado social
Reformas de miséria
Diminuição dos subsídios sociais
Leis de trabalho em que o patronato faz o que quer

Então o que tens (temos) que fazer? ( para além de os mandar foder)

Abrir a pestana e voltar à velha escola da luta "de classe contra classe" (até à vitória final- GAC)
Ocupar as avenidas com o grito da nossa revolta (os palácios são deles- a rua é nossa)
Exigir um sistema politico novo já que o capitalismo só nos trás miséria
Olhar com esperança para o futuro porque o mundo do trabalho está de novo em marcha (Grécia, países árabes, Islândia, América Latina)
Aproveitar o que aprendeste na universidade e juntá-lo à sabedoria de vida do velho proletariado (experiência e teoria- NINGUÉM NOS PÁRA)

Então meu jovem amigo à rasca:

BEM-VINDO À ANTIGA CASA DO PROLETARIADO (que sempre foi tua)

Manuel Monteiro

quarta-feira, 9 de março de 2011

CONTRA A GUERRA ou a invenção da revolução

ias pela avenida iam milhares e de
novo as velhas bandeiras dizias ao teu
filho ninguém ama a guerra

um velho sem dentes tinha na testa
um letreiro o pentágono é uma
arma de destruição maciça

era uma festa de bombos e juventude a
nossa marcha contra a guerra na janela
alguém desenhou um cherne e uma frase:
estamos fartos de ditadores eleitos

sabes parecia um maio distante ou
um abril renovado com as mesmas cores a mesma
emoção a mesma inocência
dez velhotes empunhavam uma faixa a
classe operária vencerá - vejam o que resta da
antiga revolução...
em silêncio murmurei aos teus olhos semeados de flores
as quentes flores do novo maio que há-de vir -
contra esta guerra contra este tempo de todos os
medos: sim e porque não inventarmos de novo
uma revolução?

MM

(Poema do meu livro TODAS AS MARGENS-2003- Hugin)