sexta-feira, 29 de outubro de 2010

CRÍTICA POÉTICA

que te não abram e façam em ti
toda a experiência da ética e da estética

que te não magoem
e retirem o sentido do horizonte

que te deixem respirar
e beijar as nuvens

que te não levem à universidade
onde os provadores de títulos te marcarão o sangue

que te não mergulhem nos fumos dos congressos
e te não arranquem a alma

ganha os teus braços no perfume dos campos
lá onde a infância ainda se mostra

quero-te puro e indecifrável
arauto dos reinos da glória dos simples

quero-te
como àquela rosa tímida
que se dá e fica intacta

quero-te no silêncio dos corações inviolados
como arma como capa como vinho

assim vestido de linho
terno e tonto

vivo


Manuel Monteiro


Do meu livro de poemas TODAS AS MARGENS

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