quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

A ETERNIDADE DOS MELROS

Tenho uma rara atracção por melros. Acho-os uns seres perfeitos e confiáveis.
Quando eu era pequeno ficava extasiado a contemplar a rara beleza da sua cabeça: o bico amarelo e geométrico,os olhos amedrontados pela prisão da mão, a suave penugem que anunciava a sua capa escura e protectora.
Devo confessar um remorso que me acompanha, ainda hoje: não hesitava em os depenar e comer em bárbaras fritadas. A minha intenção inicial não era perversa; eu pretendia criar em cativeiro os melritos que apanhava nos ninhos. Mas todos eles morriam de dor pela falta de liberdade.
Por esse motivo, e por que eu sabia distinguir os diversos melros adultos, eu apercebia-me da sua existência breve.
Sucede que agora, aos melros que vagueiam no descampado defronte à minha janela,não os consigo distinguir.Há um que me parece um velho melro que habitou a minha infância em Trás-os-Montes.
Acho que está na hora da eternidade dos melros. E, sendo assim, a minha está a chegar ao fim...

Manuel Monteiro

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