terça-feira, 13 de julho de 2010

A SOLIDÃO REPARTIDA

Quando passo em Belém, lá está ele, no passeio, impecavelmente vestido, acenando às pessoas que, apressadas, passam nos seus veículos. Quando passa um autocarro quase que se desfaz em gestos e beijos, tal a sua ânsia de abarcar toda a gente que vão para longe. Mas já o vi no Cais do Sodré, no Marquês de Pombal,nos Restauradores, e em outros locais da cidade. Aparece ao fim da tardinha e por lá fica até tarde da noite.
Num dia destes, em Belém, lá estava ele, mas, desta vez, estava acompanhado por um jovem casal que se fotografavam com ele. Eu parei o meu carro junto a eles e saí, simulando que verificava os pneus do veículo. Os seus olhos brilhavam, expulsando a solidão que o habita.
Há anos que vejo o homem da solidão repartida pelas ruas de Lisboa, repartindo connosco a sua existência e o seu afecto. No dia em que não o encontrar acenando à nossa indiferença, também ficarei mais solitário porque quem a repartia comigo já cá não estará para me fazer sorrir de ternura; ainda que por breves momentos.

Manuel Monteiro

1 comentário:

GiaSantos disse...

O actual modelo social faliu por todas as políticas erradas e contrariando a constituição, não houve a preocupação de um crescimento sustentável e dignificante de todas as camadas sociais.
Todos os partidos políticos são, no ínfimo, responsáveis pela omissão dos factos que levaram o país ao caos a que chegou.
O modelo faliu, não apenas em Portugal, mas no planeta, creio que em tempos de mudança surgirão os pensadores certos para o tornar num planeta mais justo.