segunda-feira, 19 de julho de 2010

OS PEQUENOS GESTOS QUE NOS SALVAM

Na minha banca de alfarrabista, na Feira da Ladra, tenho em exposição o meu livro de poesia IMPERFEITA SABEDORIA, com um pequeno letreiro, que diz: O AUTOR DESTE LIVRO É O PROPRIETÁRIO DA BANCA.E como na capa está a minha foto, abraçado ao meu neto Gabriel, as pessoas olham para a foto e depois para mim, para ver se se confirma o que está escrito no letreiro.
Duas velhotas aproximam-se e remiram o livro e remiram-me. Diz uma para a outra, baixinho, tentando que eu não perceba:
-Este escreve poesia, coitado...
A outra responde:
-Mas é bonito o verso que está na capa.
E lê para que a amiga oiça:

Avô
Porque faz o melro
o ninho
Ao alcance da minha mão?

Meu neto
É para despertar
A tua compaixão...

A outra pergunta:
-Vamos levar?...
E estende-me os cinco euros.
Eu recebo em festa a contribuição e penso que a poesia não é, sobretudo, o que se escreve, mas estes gestos que nos libertam.

Manuel Monteiro

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