quinta-feira, 27 de outubro de 2011

POEMA DO INVERNO

adormece ou morre
neste outono-inverno
o fantasma da infância
e a doce lembrança dos que amei

desfeita em farrapos
a bandeira do mundo novo
é como uma fogueira em cinzas
(ainda assim trémula de esperança)

poema eram teus doces lábios
no parque eduardo VII
e teus seios em oferta
numa pensão manhosa do Intendente
(e o Gianni Morandi era o Sartre dos pobres)

e depois Alcântara
o cais e os lenços brancos
e amor
nunca mais seremos inocentes

porque nas mãos
trago sangue de irmãos
e aerogramas de lágrimas

inverno é o que sinto
para além da chuva
porque as vozes que me habitam
ouvi-as numa emboscada em Angola:
mãe quero morrer...

Manuel Monteiro

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