adormece ou morre
neste outono-inverno
o fantasma da infância
e a doce lembrança dos que amei
desfeita em farrapos
a bandeira do mundo novo
é como uma fogueira em cinzas
(ainda assim trémula de esperança)
poema eram teus doces lábios
no parque eduardo VII
e teus seios em oferta
numa pensão manhosa do Intendente
(e o Gianni Morandi era o Sartre dos pobres)
e depois Alcântara
o cais e os lenços brancos
e amor
nunca mais seremos inocentes
porque nas mãos
trago sangue de irmãos
e aerogramas de lágrimas
inverno é o que sinto
para além da chuva
porque as vozes que me habitam
ouvi-as numa emboscada em Angola:
mãe quero morrer...
Manuel Monteiro
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
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