Telefonou-me um amigo a propósito da peça CAMÕES DE PRIMEIRA-CAMÕES DE SEGUNDA.
Acha que fui radical de mais. Se estivesses no lugar deles que farias?, perguntou-me,
implicando nessa pergunta uma crítica.
O problema - ou a solução - é que eu não estou no lugar deles. Estou noutro lugar. Não sei se melhor, sei que é outro lugar.
Mas para que não digam que olho para os intelectuais com aversão, aqui deixo um poema dedicado ao meu camarada-irmão,José Mário Branco.
A MAIS PURA RADICALIDADE
(ao José Mário Branco, pela coerência)
o pobre nada tem de seu
a não ser a pobreza
(bem desejaríamos que tivesse um leve
golpe de asa e alguma nobreza)
vós ó almas nobres estais intimados:
poetas pintores simples oleiros escritores
que ninguém se aproprie da dor
(mesmo para fazer obra de arte)
se não devolver a quem sofre
dos lucros a maior parte
malditos os que aos pobres vão buscar inspiração e tema
teorizam a miséria em proveito próprio
falam nos oprimidos com muita pena
e recebem os trinta dinheiros do cordeiro imolado
prémio da sacanagem de fazerem da pobreza arte
com o pobre cada vez mais desgraçado
só eu escrevo à vontade
a poesia apenas rouba um pouco de saudade
uma réstia de sol e alguma tristeza
não se conhece poeta rico
(e mesmo aqui não tenho a certeza)
Manuel Monteiro
terça-feira, 29 de julho de 2008
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